BH, Hospital, Paella, etc…

Fui, feliz da vida passar o final de semana prolongado (sim, sim, funcionário público tem essas mamatas de ponto facultativo pra emendar feriado) em BH. A Anita tava lá já desde o último feriado e eu fiquei de ir “buscá-la”. Lá fui eu então, no Expresso pão de queijo.

No ônibus

A coisa já começou bem. Na minha frente, um moleque com a madrinha. Ela, uma dessas patricinhas acima do peso que não para de falar. Ele um moleque perguntador que não para de falar e atrapalha todo mundo de ver o filme. A menina do meu lado com um fone de ouvido tocando música a toda altura. Pelo menos era MPB, e outras coisas aceitáveis que não atrapalharam meu sono.

Lá no fundo do ônibus, a favela. Meus preconceitos todos ativados a pleno vapor. Uma turma que parecia um time de futebol, ou algo do gênero. Todos de boné com o óculos escuro por cima do boné. Todos afro-descendentes[1]. Camisas abertas pra mostrar os cabelos peitudos[2]. Todos com uma latinha de cerveja vagabunda na mão. Todos gritando, falando alto e correndo pelos corredores do ônibus pra conversar com os colegas que estavam na outra ponta do ônibus, ou com um sujeito mais velho que devia ser o “treinador”. Se início, achei que era dessa vez que íamos ser assaltados, mas no final relaxei. Se fossem assaltantes estariam mais tensos, não fariam tanta bagunça pra não “aparecer”. Era só um time de futebol adolescente ou algo que o valha mesmo.

Sei que no final, o pior de todos foi o garoto! A favela só incomodou antes da partida e na parada do ônibus, quando gritavam e conversavam a toda altura. Quando o ônibus andava, ficavam todos quietos e não incomodavam mais ninguém… Já a overweight-cheerleader e seu afilhado não me deixaram assistir o filme (que era Borat, meio chatinho mas com cenas hilárias[3]):

  • Que isso dinha?
  • Ele tá pelado?
  • Porque ele fez isso?
  • O que tem dentro do saco?
  • Isso é um urso?
  • Mas porquê?

No final, cheguei vivo. O Moleque me acordou um pouco mais cedo do que eu gostaria, já brincando de fazer cócegas com a overweight-cheerleader, mas como já estávamos dentro dos limites de BH e logo logo o ônibus pararia na gameleira, não esquentei.

Cheguei e dormi a manhã toda. Depois fomos almoçar na casa de uma tia da Anita e logo depois do almoço, uma ligação:

Hospital

  • Filho, tou com uma dor de cabeça muito grande desde de manhã. Já liguei pro tiotávio[4] e ele me falou pra tomar mais um remédio pra enxaqueca. se a dor não passar, eu queria que você viesse aqui pra me levar no hospital.

Depois do AVC do meu sogro, nada melhor pra me assustar do que minha mãe com uma dor de cabeça que não para. Já imaginei logo o pior, e preocupado, despedimos e fomos correndo pra casa dela.

Não tinha mesmo jeito. Fomos nós pro hospital. Minha mãe mal conseguia se levantar. Muita tonteira, ânsia de vômito e tudo mais. Conseguimos entrar com ela no carro onde ela foi deitada no banco de trás, e fomos pro Hospital Belo Horizonte. Não que ela não tivesse nenhum outro convênio, mas era o hospital mais próximo e não achávamos que ele era tão desequipado. Esperamos na recepção onde minha mãe vomitou a primeira vez. Depois fomos atendidos pela médica que deu uns remedinhos, e colocou minha mãe na salinha de observação enquanto esperava o exame de sangue. Isso já eram cerca de 5 da tarde.

Nove horas da noite, dou uma cutucada na médica que estava de plantão (afinal a outra já tinha ido embora) e ela conclui: no exame de sangue não tem nada. Vamos fazer uma tomografia e chamar o neurologista. Só que não tem técnico de plantão pra operar a maquina de tomografia. Tem de ligar pra um e esperar ele chegar. Mais um remédio pra dor de cabeça e mais espera. Aproveito a espera pra tomar banho em casa, lanchar e voltar. Na volta a notícia: A tomografia não tem nada, vamos ter de esperar no dia seguinte por uma ressonância, pois não tem ressonância no hospital.

Aí minha mãe voltou ao normal:

  • Peraí, Eu vou ter de dormir aqui na sala de observação? E meu filho vai ficar dormindo onde? no corredor?

Barraco pra lá, barraco pra cá, eu e minha mãe batemos pé:

  • Não saio do lado da minha mãe!
  • Não vou deixar meu filho dormir no chão!

Convencemos a médica a internar minha mãe e a Anita preferiu que eu dormisse em casa (eu estava ultra-mega-power nervoso, se ficasse no hospital nem eu nem minha mãe íamos dormir). Nisso já era meia noite e pela manhã o médico examinaria minha mãe e só aí marcaríamos a ressonância.

Acordo as 7, ligo pro hospital as 8, chego lá as 9, mas a ressonância vai ser só as 10. Minha mãe tá bem melhor. Consegue fazer sudoku e tudo mais. A cabeça ainda dói, mas sem tonteira e sem enjôo. Mesmo assim, vamos fazer todos os exames pra garantir que não foi nada grave.

Um breve passei ode ambulância e chegamos no laboratório onde tem a ressonância. A minha mãe não tinha hora marcada, ia ser um encaixe (claro, uma emergência nunca é programada, duh!). Aguardamos nossa vez e vamos lá pra dentro. O aparelho é divertidinho no início, mas meio monótono, por isso prefiro sair da sala depois de um tempo. Se isso importa pra alguém, era um aparelho da Sony.

Volta de ambulância e o diagnóstico do médico: NADA. Não sabemos o que foi, mas como já passou, deram alta pra ela. Enfim, voltamos pra casa depois de 24h de hospital sem saber o que aconteceu. O neurologista marcou uma consulta pra próxima semana e vamos ver no que dá.

Paella de porco

Sexta feira a tarde eu só fiz dormir, claro. E no sábado, minha mãe tinha sido convidada pra um Paella de porco, feita por um autêntico espanhol. É um congresso ibero-americano de biohidrometalurgiaque acontece em Ouro Preto essa semana. A área é meio fechada, por isso a turma toda já se conhece dos vários congressos. Um deles, espanhol, prometeu uma paella no último congresso e teve de cumprir. As brasileiras compraram os ingredientes. Ele trouxe da espanha o arroz especial e alguns temperos.

Fomos pro retiro do chalé, condomínio fora de BH, no meio das montanhas, sobe e desce, sobe e desce, até chegar. A língua oficial no encontro era, claro, o espanhol. Ou o portunhol, se preferirem. Entre os 15 participantes, um espanhol (o cozinheiro), um argentino, um chileno, uma cubana e uma que não sabemos bem de onde, um casal de Araraquara e o resto de belo horizonte mesmo. Bom, quase de Belo Horizonte. Eu e Anita de Brasília, um outro casal de Ouro Preto, e os donos da casa de Nova Lima, já que o condomínio já é fora dos limites de BH.

A curiosidade geral era pra ver como se fazia a paella. Uma pausa, claro, pra provar uma Anísio Santiago[5] que por alguns momentos foi a estrela da festa até que a paella retomasse essa posição.

A paellera mal cabia no fogão, mas nosso chef foi logo exigindo um fogo melhor, já que aquele fogo com 4 bocas não iria esquentar a panela por inteiro. Solução? Churrasqueira e fogo de lenha. Acendia churrasqueira, coloquei uma grelha pra apoiar a panela e boas! O espanhol adorou a solução. Vestiu logo seu avental verde e amarelo e foi pra cozinha: refogou pimentões e fritou dentes de alho inteiros. Fritou a carne (lombo cortado em cubinhos e costelinha de porco) e deixou ferver com água por alguns minutos pra amaciar. Depois ferveu água em várias panelas pra que ela já chegasse quente na paellera.

Na churrasqueira, meu fogo ardia forte[6], com bastante lenha. O chef colocou a paellera no fogo e cobriu o fundo com molho de tomate (uma massa de tomates sem tempero e com uns pedaços grandes de tomate), juntou um monte de temperos, incluindo um “pozinho mágico” que ele trouxe da Espanha[7], e esperou começar a ferver. Espalhou as carnes por cima, e depois o arroz. Daí foi derramando a água devagarzinho pra não deixar parar de ferver, até que a panela tava até a borda de água. Mexeu enquanto fervia até o arroz ficar al dente, então tirou do fogo (que eu fui encarregado de apagar), enfeitou com os pimentões e alhos, cobriu com um jornal de mulher pelada (a mulher pelada foi mera coincidência, mas motivo suficiente para as gozações) e esperou, cronometrados, 20 minutos.

Deliciosa, mas a carne poderia ser mais magra! Sei que comi 3 pratadas 😉

O que nos leva de volta ao domingo e a nossa..

Viagem de volta

No mesmo busão. Dessa vez do meu lado vinha a anita, e do outro lado do corredor, um metaleiro com direito a touquinha preta, cavanhaque e cabelos grandes mal cuidados. A overweight-cheerleader estava lá com seu afilhado, fazendo o mesmo barulho, mas o barulho do walkman do metaleiro era pior. O filme? Um HORROROSO de um técnico de basquete que vai treinar um bando de retardados numa high-school qualquer. No final ele prefere treinar crianças no lugar de voltar pra liga universitária onde ele era o bam-bam-bam! Nem seção da tarde merece tanto!

Os marginaizinhos da vinda estavam mais quietos. Devem ter perdido o jogo, sei-la. Enfim, cheguei vivo e tirando uma dor de cabeça(oh… oh…), não tive nenhuma seqüela!

Notas

  1. ? pra ser politicamente correto, e ainda assim mostrar que sou racista, fazer o que
  2. ? ou não, já que pela idade de recém saídos da puberdade não tinham muito pra mostrar
  3. ? na verdade a única cena realmente bacana é dos dois correndo pelados pelos corredores do hotel. Eles jogando dinheiro pros “judeus” transformados em barata também é divertidinho. O resto é ruim de doer!
  4. ? meu tio médico
  5. ? Nota mental, contar algum dia a estória da Havana que esperou eu e meu irmão podermos beber juntos com meu pai pra ser bebida, num natal em Toulouse.
  6. ? ui…
  7. ? No rótulo dizia: tomilho, alecrim, sal (35%), cravo e açafrão(25%).

girino 17:54, 19 Novembro 2007 (BRST)

2 thoughts on “BH, Hospital, Paella, etc…

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