- Eu tinha dois cachorrinhos, um chamava Grapete e o outro Nabunda. Grapete morreu, qual que sobreviveu?
- Repete?
- Não, Nabunda nada!
Bom, esse é um jeito meio nonsense de começar um artigo, mas a estória é essa: eu escrevi essa primeira frase no meu blog de ontem, só que não achei Nabunda em nenhum lugar! Tentei linkar para a Desciclopédia e mesmo lá, Nabunda não tem nada! Então, depois de tudo isso e dessa longa explicação, resolvi escrever Nabunda:
E Nasce Nabunda
Quando eu era criança meu pai me deu dois cachórros1). Um se chamava Grapete e o outro chamava Repete. As piadas, claro, eram constantes:
- Qual o nome desse cachorro?
- Repete!
- Qual o nome desse cachorro?
E por aí vai…
Mas eu gostava do Grapete e do Repete. Sabe aqueles cães que sobem na sua cama e cagam ela toda? Que mordem o carteiro e fogem de casa por uma semana pra depois voltar prenha (não sei como o Grapete fez isso, pois ele era macho, mas que voltou prenha voltou)? Pois esses eram o Grapete e o Repete! E eu adorava os dois, mas meu pai odiava cada dia mais. A cada móvel roído, terno rasgado ou panela de comida roubada e espalhada pelo quintal o ódio do meu pai crescia mais.
Assim, sem mais nem menos, um belo dia eu acordei e o Repete tinha morrido:
- Pai, um dos meus cachórros2) não quer mais se levantar!
- Qual deles, meu filho?
- Repete!
- Qual deles, meu filho?
- Repete, pai!
- Fala logo qual deles, oh caralho!
- Porra, pai, é o repete, eu já falei!
- Caralho de filho de merda, se diz é Eu repito e não Eu repete, eu repete o escambau!
Desse dia em diante minha relação com meu pai deteriorou muito, e o armário de brinquedos onde eu guardei o cadáver do Repete também. Eu nem usava mais meu quarto, dormia na casinha do Repete, pra não aguentar o cheiro de bicho morto. Meu pai me achou muito estranho, por isso me mandou pro catecismo. Ele achou que Deus ia me curar dessas viadagens de dar o rabo pro cachorro.
Bom, pro cachorro pode ser que eu não tenha dado mais, mas pro padre… Deixa pra lá, é outra estória. E no final ele nem era padre, mas isso a igreja só descobriu quando ele apareceu prenha, que nem o Grapete. Eram trigêmeos. A história que rolou na cidade é que dali ia sair de japonês a esquimó, passando pelo português da padaria. No final, nasceram 2 pintinhos e um cachorrinho. Esse daí por algum motivo saiu pelo lado errado e deram pra ele o nome de Nabunda!
Aceitando Nabunda
Os pintinhos logo viraram frango, e o padre fugiu da cidade com o dinheiro da venda dos dois. Nessa estória, sobrou Nabunda. Ninguém sabia o que fazer dele. Uns queriam deixar Nabunda, outros achavam que o padre novo deveria levar Nabunda. O bispo se ofereceu para vir a cidade e enterrar Nabunda, caso o novo padre se dispusesse a sacrificar Nabunda.
Por fim, convenci meu pai e acabei aceitando Nabunda la em casa. Ele ia substituir o finado Repete, e quem sabe me livrar daquela ossada podre dentro do armário. Debaixo do nome do Repete, no alto da casinha, escrevi o nome do Nabunda, pra todo mundo ver:
Nabunda
Daí em diante, Nabunda era parte da família!
Levando Nabunda
Aos 16 anos, fui expulso de casa. Meu pai insistia que eu jogasse futebol, mas eu sempre preferi Balé Flamenco. No final de contas, acabamos brigando e Nabunda tentou separar. Mordeu meu pai! Na bunda! Imagina a cena:
- Meu pai, no único hospital da cidade, com Nabunda pendurado na bunda!
Meu pai foi vítima de piadas pelo resto da vida! E Nabunda iria virar sabão no dia seguinte. Mas eu já tinha tomado gosto por ele, e escondi Nabunda para que meu pai não o sacrificasse. Isso me valeu uma expulsão de casa:
- Se você prefere Nabunda, pois que leve Nabunda, mas nessa casa você não entra mais!
- Mas pai, se eu for, não é melhor deixar Nabunda?
- Meu filho, se você deixar Nabunda eu soco Nabunda até sair sangue!
Infelizmente, duvidei do meu pai. Até hoje tenho problemas para sentar!
E foi assim que, saindo de casa aos 16 anos, levei Nabunda!
Grapete e Nabunda
Não foi só Nabunda que eu levei. Grapete tinha ficado pra trás, mas não aceitou bem a situação. Já tinha perdido o Repete, agora não podia mais ficar sem o seu novo macho Nabunda! Com tempo, Grapete parou de comer, de latir e de mijar. Cagar não, que ele ainda cagava pra caralho. Um belo dia meu pai chegou em casa e não achou mais o Grapete. Só tinha Fanta Uva.
Pois o Grapete também fugiu de casa. Encontrei o Grapete por acaso. Eu estava ensinando Nabunda a nadar, mas ainda era cedo pra dizer que Nabunda nada! Nabunda podia fazer de tudo, menos nadar! E tentando ensinar Nabunda a nadar, achei o Grapete, meio afogado, na beirada do rio, sem fôlego, nem ânimo. Pois foi Grapete ver Nabunda, e se animar todo! Grapete adorava Nabunda, fez festa com ele e Nabunda latia, Nabunda pulava, Nabunda gritava! Em poucos dias Grapete já era o mesmo Grapete de antes, e Nabunda já se dava com Grapete.
Acaba Nabunda
Mas tudo sempre tem um fim. Dez anos mais tarde começa minha reconciliação com meu pai! Ele já senil, e eu ainda virgem, nos encontramos num asilo, onde eu levei Nabunda pra distrair um pouco os velhinhos. Foi lá que eu disse pra ele:
- Eu tinha dois cachorrinhos, um chamava Grapete e o outro Nabunda. Grapete morreu, qual que sobreviveu?
- Repete?
- Não, Nabunda nada!