Quando eu era criança, na casa da minha avó, tinha um quadro que era assombrado. Era uma ancestral distante, ou parenta antiga, que tocava harpa durante a noite. Na verdade, o quadro escondia um encanamento ou tubo de ventilação, não sei bem, que estralava com a dilatação durante a noite. Os estralos abafados se confundiam com um toque de harpa desengonçado. Não é que nós não soubéssemos. Todo mundo sabia o que causava os ruídos, mas isso não impedia o folclore da família de perpetuar a ideia da trisavó, ou seja, lá o que era, saindo do quadro e tocando a harpa que ficava na sala de visitas. Aliás, a harpa que morava na sala nunca tinha sido dela, e ela provavelmente nem sabia tocar. Mas nada disso impedia o folclore de proliferar. E os quadros assombrados não eram exclusividade da minha família. Cada casa tinha o seu. Nem sempre era um cano velho, mas eles sempre estavam lá, seja seguindo com os olhos quem passava, ou projetando sombras durante a noite.
Também quando nós, pequenos, coçávamos os olhos de sono, sempre tinha uma avó ou tia para afirmar: é o João Pestana que jogou um grãozinho de areia nos seus olhos para dizer que é hora de dormir. E claro sabíamos que não havia nenhum João Pestana, mas ainda assim procurávamos avidamente por ele.
Mas meus preferidos eram os sacis. Tinha vários. Quintal grande, com muita terra, dava pra ver redemoinhos sempre. Mesmo fora da casa, na cidade, tínhamos muitos sacis. Eles batiam as janelas, derrubavam as roupas do varal, atrapalhavam nossas brincadeiras. Eram mesmo uns malandros. Nunca tentamos pegar os sacis. Não eram sacis de monteiro lobato que nos obedeciam se roubássemos o gorro ou que pudéssemos prender em uma garrafa com uma cruz feita de carvão na rolha. Eu até fiz isso uma vez, mas todo mundo riu de mim: os nossos sacis não eram sacis de livro. Eles só brincavam no quintal, e faziam as travessuras deles, dentro de seus rodamoinhos.
Até hoje os rodamoinhos me impressionam. Quando teve um tornado aqui em Brasília, uns anos atrás, que destruiu vários carros no estacionamento do aeroporto, eu via de longe e imaginava o tamanho do saci que pilotava aquilo ali.
Algumas lendas mais antigas não tinham lugar na cidade grande, é verdade. A falta de um rio ou mar não deixava lugar pras sereias e botos. E a falta dos fogos fátuos nos cemitérios modernos nos tirava as mulas sem cabeça. Mas o folclore não se dá por rogado e cria suas novas lendas. Nosso cemitério do Bonfim ganhou uma loira, que fazia o papel sedutor da sereia e assombrava nosso cemitério. Já o nosso boto veio bem mais tarde, quando já era adolescente, na forma de um capeta que seduzia as mulheres nas quadras de forró ou funk da avenida Vilarinho. Não podia tirar o chapéu, não por causa do furo na cabeça, mas dos chifres, que apareceriam.
Esse mundo misto de fantasia e realidade ajudava a gente a entender o mundo. Sabíamos bem o que era lenda e o que era realidade, mas as lendas nos traziam um conforto extra praquilo que ainda não conhecíamos por completo. Era bom ter um saci pra “culpar” pela bagunça no quintal. Arrumávamos aquilo com mais gosto e vontade. Como dizem os hispanofônicos:
Yo no credo en brujas, pero que las hay, hay!
Mas o mundo cresceu muito rápido. As lendas que antes cabiam não cabem mais, e as loiras do Bonfim e capetas da Vilarinho não conseguem suplantar a velocidade da internet. Eu ainda vejo bruxas e sacis por aí, mas acho que sou dos poucos. A maioria nem repara na existência deles, e somente ri quando reparo. Mesmo as crianças, não tem um saci na internet ou um João Pestana que saia da TV. (Talvez uma Samara, dizendo que temos 7 dias? só se for por WhatsApp, porque “áudio? deus me livre!”). Não sei se essa falta de bruxas e sacis é que abre o caminho para acreditarmos em outras lendas, que ao invés de nos acalmar dentro de um mundo inexplicável, nos aterrorizam e nos fazem temer a verdade. Cada um tem a sua: de cloroquina a 5g, de GMO a vacinas, sempre temos uma bruxa à solta no nosso WhatsApp. Precisamos de novos sacis pra arrumarem (ou bagunçarem?) a casa e tomar o lugar dessas outras bruxas, mais assustadoras e daninhas, do mundo moderno!
No post anterior eu expliquei o que eram os forks, e o que isso tinha a ver com o Bitcoin XT. Nesse post vou tentar esmiuçar um pouco o que é o Bitcoin XT.
Histórico
Desde os primórdios do bitcoin, o tamanho do bloco é o principal fator limitador da capacidade da rede de processar transações. No modelo atual, um bloco pode ter no máximo um megabyte de tamanho, o que limita o numero de transações a cerca de 7 por segundo (( Bloco de 1Mb, 250 bytes por transação, um bloco a cada 10 minutos, ou 600 segundos, em média $$ \Rightarrow \frac{1000000}{250 \times 600} \approx 6.66$$ ))((A conta de 250 bytes por transação foi feita pelo próprio Gavin Andresen e postada aqui)). Hoje isso parece ser o suficiente, e a não ser em casos onde tentam fazer um “flood” na rede ((referencia par ao flood de transações na rede)). Mike Hearn, o principal desenvolvedor do bitcoin XT fez estimativas usando o valor corrigido de 3,2 transações por segundo((3,2 transações por segundo é o limite atualmente aceito pois o tamanho médio de transações cresceu desde a previsão do Adresen, veja aqui)) seria atingido ainda no primeiro semestre de 2016((ver “Bitcoin’s seasonal affective disorder“, por Mike Hearn))((Opinião pessoal do autor aqui, olhando o gráfico de tamanho médio dos blocos (e não de numero de transações, como o Hearn fez) vejo que o crescimento dele é sublinear – pode ter a ver com a variação sazonal que ele explica no artigo – e, a não ser durante os ataques de flood que podem ser mitigados de outras maneiras, não está nem perto de chegar no limite dentro de um ano. Veja nesse gráfico)).
Surgiram então ao menos 3 propostas de aumento dos blocos, defendidas por diferentes membros do “core developers”((Core developers é o nome dado ao time principal de desenvolvimento do bitcoin core)). O Jeff Garzik criou o BIP 100((BIP 100, por Jeff Garzik)), que propunha um sistema de votação para aumento dos blocos e o BIP 102 ((BIP 102, por Jeff Garzik)) que aumenta o bloco para 2Mb uma única vez. O Gavin Adresen propôs o BIP 101((BIP 101, por Gavin Andersen)), que propunha um aumento fixo inicial para 8Mb, dobrando esse tamanho a cada 2 anos até o limite de 20Mb. Por ultimo, o Pieter “sipa” Wuille fez uma proposta conciliatória((como traduzir “compromise”, meu deus?)) que ficou conhecida como BIP “sipa” e não chegou a ganha numeração definitiva((BIP “sipa”, por Pieter Wuille)). Essa proposta aumenta o blockchain gradualmente a cada 97 dias, numa média de 17.7% ao ano a partir de 2017. Os outros dois desenvolvedores do grupo((Posição do Gregory Maxwell))((Posição do Wladimir J. van der Laan)) se posicionaram contra o aumento do tamanho do bloco, por entre outros motivos((Veja um resumo dos argumentos aqui)) acharem que forçar um hard fork sem consenso da comunidade seria arriscado.
Nesse contexto, a comunidade e os desenvolvedores não conseguiram entrar em consenso. O Gavin Adresen como lider nominal do grupo se sentia pressionado para que uma decisão fosse tomada rapidamente((citação: “A lot of people are pushing me to be more of a dictator (like Mike) … that may be what has to happen with the block size. I may just have to throw my weight around and say this is what it’s going to be. If you don’t like it, find another project.”)). Aqui entra em cena o Mike Hearn que já estava descontente com a forma como time de core developers tomava as decisões sobre o desenvolvimento do bitcoin e já vinha se desentendendo com alguns deles((sobre a discussão com o Wladmir J. van der Laan)). Ele então convenceu o Gavin Andresen a ajudá-lo em um novo projeto, construído em cima do Bitcoin Core, onde o processo de tomada de decisão fosse mais ágil e mais focado em atender as necessidades do usuário. O carro chefe desse novo projeto seria a BIP 101 do Gavin, mas ele comportaria outra mudanças. Em meados de agosto o projeto gerou seu primeiro fruto, que é o Bitcoin XT.((Why is Bitcoin forking?, por Mike Hearn))
O que vem no pacote?
O Bitcoin XT, como o próprio projeto diz, nada mais é que uma série de patches aplicados ao Bitcoin Core para conduzi-lo na direção que os novos desenvolvedores, em especial o Mike Hear, acham correta((citação: “Bitcoin XT is an implementation of a Bitcoin full node, based upon the source code of Bitcoin Core. It is built by taking the latest stable Core release, applying a series of patches, and then doing deterministic builds so anyone can check the downloads correspond to the source code.”)). O pacote completo de patches inclui, além do BIP 101, as seguintes funcionalidades:((Veja a lista detalhada dos patches))
Retransmissão de double spending pelos clientes (para facilitar a identificação de golpistas, a rede não mais filtrará as tentativas de gastar duas vezes a mesma moeda);
BIP 64 – “getutxos”, que permite que informações sobre transações sejam requisitadas na rede, auxiliando na implementação de carteiras descentralizadas e permitindo melhorias na interface;
Melhorias na lista de DNS seeds, permitindo maior diversidade e robustez nas conexões da rede;
Funcionalidades anti DoS – Duas propostas de proteção contra DoS, uma do Mike Hearn, outra do Tom Harding foram implementadas;
Votação e entrada em operação
O aumento de blocos não é uma mudança trivial, e não pode ser feito com uma mera atualização do software. É preciso forçar um hard fork na rede. Não existe uma forma de fazer a transição suave (usando soft forks), porque os blocos de tamanho maior seriam fatalmente rejeitados pelos clientes antigos, e não há uma maneira alternativa de encaixá-los no protocolo já que foi implementado como uma regra fixa em todos os clientes.((ver 1 e 2 para mais detalhes)). Um hard fork é uma medida arriscada, que pode gerar prejuízos se feito apenas por uma parcela da rede. Normalmente ele é conduzido com o consenso da comunidade que atualiza os principais nós e clientes da rede antes de um prazo pré estabelecido. Entretanto a implementação do aumento de blocos ainda é um assunto polêmico, e o consenso nunca foi atingido. Então o Bitcoin XT se utiliza de um mecanismo de “votação” para mensurar o consenso da rede, e só após esse consenso ser atingido é que ele irá ativar as novas funcionalidades. Nesse meio tempo, ele opera exatamente igual a um cliente bitcoin core.
A votação tem uma regra bem simples: Após 11 de janeiro de 2016, se em algum momento 750 dos últimos 1000 blocos minerados (75%) forem marcados com o numero de versão do Bitcoin XT, o sistema considera que o consenso foi atingido.((O andamento da votação pode ser acompanhado aqui)) Uma mensagem pedindo a atualização da carteira para o XT é então enviada e exibida em todas as carteiras que ainda não foram trocadas pela versão XT, e após 2 semanas, as regras do XT passam a valer. Essa regra muda a dinâmica de obtenção de consenso de forma prévia para o que os autores do XT chama de “Economic majority voting”((ver “economic majority voting“, no bitcointalk)), e é um dos principais pontos de crítica a forma como o projeto é conduzido ((o outro é a estrutura hierárquica de tomada de decisão))
Não existe Bitcoin XT, apenas Bitcoin
Em todas as discussões que acompanhei na internet o que mais tenho visto é a dificuldade de entender o que exatamente é o Bitcoin XT. Apesar da discussão ser complexa e cheia de nuances, termos tecnicos especificos do bitcoin como “fork”, “blockchain” e “broadcast de transações”, um ponto é bastante claro:
O Bitcoin XT e o Bitcoin são uma coisa só.
O bitcoin XT é uma carteira que implementa um conjunto de regras mais abrangente (blocos maiores), e por isso necessita de um hard fork para entrar em operação, mas ele não cria uma moeda paralela nem “mata” o bitcoin. Mudanças de regras no bitcoin sempre foram implementadas e nem por isso ele deixou de ser “bitcoin”. O bitcoin não deixa de existir, nem é substituído pelo XT. O XT apenas atualiza as regras de validação de blocos que o bitcoin usa, estabelecendo um novo consenso na rede, agora com blocos maiores((estou deliberadamente ignorando as outras mudanças introduzidas pelo XT pois elas não envolvem a blockchain nem o fork, apenas afetam a apresentação ou a conectividade dos clientes, e mesmo que não forem implementadas em carteiras alternativas, não impediriam o funcionamento correto delas)). A moeda continua sendo o bitcoin, a blockchain continua sendo a blockchain do bitcoin e a rede continua sendo a rede bitcoin. A expectativa dos desenvolvedores do XT é que o consenso seja atingido ainda durante o período de duas semanas da atualização do XT e que no momento em que o primeiro bloco maior do que 1Mb for gerado, já não existam clientes desatualizados rodando na rede.((ver uma discussão sobre isso aqui))
Existe uma controvérsia quanto ao que acontecerá se o defensores radicais do bitcoin core continuarem minerando e mantendo o bitcoin core vivo e conectado à rede. O próximo artigo irá focar nesse problema e em outros possíveis problemas do XT.
Se você está querendo saber o que é Bitcoin @ wikipedia.org (en), esse artigo não é pra você. Se procura um posicionamento politico, também veio ao lugar errado. Esse artigo é sobre como funciona o mecanismo de consenso, e a bifurcação (Fork) que ocorrerá em consequência da adoção do Bitcoin XT.
O mecanismo de consenso e os forks
O Bitcoin se propõe a resolver um problema clássico da computação, conhecido como “Problema dos generais bizantinos Iterado”((ver Byzantine Generals @ wikipedia.org (en))). Esse problema pode ser resumido como sendo “buscar o consenso através de mensagens transmitidas por um meio inseguro”. Não vou entrar em detalhes aqui sobre como o consenso é atingido ou buscado, pois sairia do escopo desse artigo, mas basta saber que o objetivo do bitcoin é conseguir o consenso entre os participantes da rede. Quando esse consenso não é atingido, acontece oque chamamos de “Fork“, ou bifurcação.
Nesse ponto quero deixar claro: um Fork na Block chain (database)|blockchain @ wikipedia.org (en) não tem nada a ver com um fork do código fonte. um Fork na blockchain pode acontecer sem haver fork no código fonte (e ja aconteceu algumas vezes antes por bugs no software do bitcoin core((ver os seguintes artigos: 1, 2 e 3 )) ). Forks no código fonte do bitcoin acontecem todo o tempo. São desenvolvedores criando novas criptomoedas concorrentes ou complementares ao bitcoin((Atualmente são tantos que a ferramenta de visualização do github nem permite ver o gráfico)). Note que esses forks sempre criam novas blockchains, começadas do zero. Ou seja, são forks do código fonte, mas não da blockchain.
SoftFork
Voltando ao assunto. O consenso no contexto do bitcoin é definido pela blockchain. Ela nada mais é do que uma sequencia de blocos, estes compostos por transações, encadeados um ao outro através de assinaturas criptográficas((Pra quem quer saber em melhores detalhes, um bloco precisa conter o hash do bloco anterior e ser validado por um processo conhecido como mineração, veja esse artigo (não técnico) ou esse (mais técnico))). Sempre que há uma divergencia entre mineradores, ou seja, quando conjuntos diferentes de transações são validados ao mesmo tempo formando blocos diferentes para a mesma posição da blockchain, acontece um fork. Esse tipo de fork é chamado de “soft fork“, e faz parte do mecanismo de obtenção de consenso.
Como a rede decide qual desses dois blocos vai ser mantido e qual será descartado? Simples. Quando o proximo bloco for minerado, apenas um dos dois terá sido “assinado” pelo minerador. Aquele que ficar de fora, se torna “órfão”. E se dois mineradores criarem dois novos blocos simultâneos, cada um assinando um dos antecessores concorrentes criados na rodada anterior? Apesar de pouco provável, será formado um fork de dois blocos, ou três, quatro, etc, blocos até o momento em que algum minerador conseguir minerar sozinho o próximo bloco, sem conflitos, e criar uma sequencia mais longa que a concorrente. Quando essa sequencia é criada, a rede atinge novamente o consenso, e essa nova blockchain, mais longa que a concorrente, é mantida e a sequencia concorrente de blocos é tornada órfã.
Soft Forks. Os blocos roxos se tornaram órfãos.
O mecanismo de consenso então é sempre decidir pela sequencia mais longa de blocos. Soft forks são mecanismos temporários que permitem que duas versões concorrentes da blockchain disputem qual delas atingirá o consenso. Soft forks com mais de um bloco são raras, muito raras.
E órfãos são ruins! Ninguém gosta de órfãos((No contexto de bitcoins, não tenho nada contra crianças que precisam de adoção)). Órfãos dão um prejuízo danado a quem os minera, pois gasta poder de processamento para encontrar um bloco que vai ser descartado pela rede e não vai gerar dividendos. A menos que se esteja tentando um ataque à rede, ninguém vai querer forçar a criação de soft forks na rede, pois o risco de tomar prejuízo é grande.
correção:
Estudando mais sobre o XT para o próximo artigo percebi que tem uma incorreção nessa seção, então volto pra corrigi-la. Quando eu falei de soft forks, eu cito apenas os forks involuntários da rede, mas o termo é usado de forma bem mais ampla que isso. Quando mudanças no protocolo são retro-compatíveis, isto é, não vão quebrar as regras das carteiras já existentes (por exemplo, se eu reduzo o tamanho dos blocos ao invés de aumentá-lo), isso é também chamado de soft fork. Os blocos gerados nas carteiras antigas podem ser rejeitados pelas carteiras novas, mas os blocos novos não serão rejeitados pela carteira antiga e a rede manterá sua consistência, com uma quantidade pequena de “orfãos”.
Hard Forks
Então chegamos no grande vilão do consenso: Os hard forks. Hard forks são quando alguma coisa impede que um consenso seja atingido. Pode ser um bug no sistema, que cria blocos reconhecidos por algumas versões da carteira, mas não por outras. Esse tipo de bug já aconteceu mais de uma vez((ver os seguintes artigos: 1, 2 e 3 )). Pode também ser decisão do time de desenvolvedores, para acrescentar funcionalidades à moeda. Para evitar que um hard fork proposital tenha impacto na moeda, um consenso prévio entre desenvolvedores e usuários costuma ser buscado, e quando o hard fork acontece, estão todos (ou quase todos) com a versão correta da carteira e a cadeia “errada” é rapidamente descartada ou ignorada.
Exemplo de Hard Fork. A cadeia superior usa a versão antiga da carteira enquanto a cadeia inferior usa a versão nova. Como não houve consenso, duas cadeias paralelas se formam a partir do terceiro bloco.
Se órfãos já eram ruins, imagina um hard fork? é todo um ramo da blockchain que nunca vai virar o consenso. É a pior coisa que pode acontecer, e é motivo de morte para várias altcoins((veja nessa lista de altcoins mortas quantas morreram por hard forks)).
A rede e a propagação das transações
Além da blockchain, outro componente primordial do bitcoin é a rede. O bitcoin forma uma rede P2P conectando cada carteira com uma quantidade razoável de outras carteiras, de forma que as mensagens entre uma e outra consigam percorrer toda a rede. De uma forma simplificada, as transações criadas por uma carteira são enviadas a todas as outras conectadas a ela. Cada uma dessas carteiras, por sua vez, retransmite as transações recebidas de uma carteira conectada para todas as outras, e assim sucessivamente, até que toda a rede tenha recebido uma copia daquela transação. OS blocos minerados passam pelo mesmo processo. A diferença é que as transações ficam armazenadas em uma memória temporária, e os blocos são armazenados na blockchain, de forma permanente.
Exemplo de redes com clientes de versões diferentes. Na primeira uma rede totalmente conectada. Na segunda, as linhas vermelhas indicam os pontos onde clientes de versões diferentes irão se desconectar. Na terceira e quarta vemos as redes isoladamente.
Quando acontece um fork, seja ele soft ou hard, a transmissão das transações e blocos continua ocorrendo normalmente. Ou seja, forks não afetam a propagação de transações pela rede. No caso de um hard fork, entretanto, alguns blocos gerados por carteiras de versão diferente ou com bug vão ser descartados como inválidos, e não serão gravados. Em casos graves, as carteiras que insistirem em enviar blocos “inválidos” podem ser desconectadas. Em alguns casos, essa desconexão pode separar a rede em duas redes que não se comunicam. Chamamos isso de split. Mas na maioria dos casos, as redes continuam se comunicando, mas ignorando os blocos gerados pela outra rede. Quando há um split, criam-se efetivamente duas redes separadas, com duas blockchains separadas, praticamente como se existissem duas moedas separadas.
O bitcoin XT
Também não vou entrar em detalhes sobre quais são as melhorias propostas pelo Bitcoin XT ou se elas são boas ou ruins. Apenas pretendo descrever o que deve acontecer com a blockchain e com a rede bitcoin devido a sua introdução.
O bitcoin XT é um fork do código do bitcoin que pretende gerar um hard fork da blockchain do bitcoin caso sua aceitação passe do limite de 75%((O valor exato é de 750 blocos minerados pelo XT entre os últimos 1000 blocos minerados, ver BIP-0101)). Após atingido esse limite ele emitirá uma mensagem para todos os clientes da rede informando que haverá um hard fork e dando o prazo de 2 semanas para que quem quiser possa adequar seus sistemas. Passadas duas semanas, o XT começará a minerar blocos seguindo as novas regras, gerando assim um hard fork.
Isso não seria um problema normalmente, já que o processo de consenso seria conduzido fora da rede e quando fosse finalmente colocado em prática o fork, todos os usuários já estariam com seus sistemas e carteiras atualizados. Só que isso não aconteceu. O XT optou por não passar pelo processo de obtenção de consenso fora da rede e usou esse novo processo para decidir sobre a criação ou não do hard fork. Em termos práticos, o processo deixou de ser uma tentativa de consenso e passou a ser uma votação por maioria de 3/4 dos mineradores((na verdade 3/4 do poder de processamento, já que mineradores mais “poderosos” terão mais influencia no voto)).
A intenção dos criadores do XT é que, caso eles atinjam os 75%, todo mundo migre para o XT e o consenso seja atingido sem hardfork. Mas isso não necessariamente é verdade. Vou tentar descrever abaixo alguns dos cenários que podem acontecer.
1) Caminho Feliz sem XT
Esse é o cenário mais fácil de prever. O XT não obtém 75% dos mineradores, e tudo continua como está.
2) Caminho Feliz com XT
Esse cenário se dá com um consenso sendo atingido antes do término das duas semanas de adaptação. Nesse caso, todos migram par ao XT e quando o hardfork ocorrer, não haverá ninguém no lado “antigo” do fork, que morrerá rapidamente. O XT substitui o bitcoin totalmente. Esse cenário parece improvável dada a quantidade de pessoas defendendo o XT.
3) Hard Fork, mas o bitcoin “antigo” continua existindo.
Suponhamos que 20% dos mineradores optem por não migrar par ao XT. No momento do hard fork teremos a criação de duas moedas com um passado comum. Uma que chamarei de “core” e é minerada pelos que não migraram para o XT e outra que chamarei “XT”, minerada por quem optou pela mudança. Nesse cenário, existem diversas situações de risco e que podem causar problemas tanto para a rede como para os usuários.
Na próxima parte desse artigo eu vou tratar em mais detalhes desse cenário, que é o mais interessante tecnicamente.
Acabei de colocar no meu programinha de navegar pelos dados da transparencia os dados do estado de São Paulo. O principal problema com SP é que eles divulgam os valores, mas não dizem de quando eles são. Procurei por todo canto, mas nada… Acabei “chutando” que eram dados de julho, mas tenho certeza que errei no chute.
A sim, e preciso agradecer aos “hackers” que extraíram os dados do site, pois ele não é machine readable. Se alguém souber quem são, e eles quiserem ser identificados, me falem que eu coloco os créditos pra eles aqui.
Só pra constar aqui, os dados das tabelas agora incluem o Senado Federal (exceto nas tabelas que agrupam por “nome”, já que o senado não divulga o nome dos servidores). E a tabela cargos senado agrupa por cargos do senado federal. Divirtam-se com mais esta.
Gen. Ann Dunwoody meets with Rear Adm. Liz Young and Air Force Maj. Gen. Ellen M. Pawlikowski during a lunch in her honor, Feb. 7, at the Women in Military Service for America memorial at Arlington National Cemetery.
No meu ultimo post decente deixei no ar a pseudo-conclusão de que mulheres ganhariam menos que homens no serviço público federal. (“pseudo”, porque não tenho dados concretos pra embasar, e sim uma intuição a partir de dados preliminares). Depois fui cuidar de fazer tabelinhas bonitinhas com os dados pra postar no blog de novo, como quem não quer nada, achando que tudo continuaria como está. Baixei os dados no novo formato, fiz um novo programinha para calcular as estatísticas (dessa vez offline, postando os resultados já consolidados, vou tentar falar sobre ele depois).
Agora tinha dados pra maio e junho! ótimo! dá pra comparar os meses e ver o que mudou. Calculei os valores pra junho, tudo como esperado. Só pra conferir então, calculei os valores pra maio e… hein? caixa escrito frágil? Não tinha NADA a ver! Os Ricardos tinham sido desbancados pelas REGINAS! (pensado pelo lado bom, continuou na letra R). Recalculei, afinal no primeiro post usei os 100 mais comuns, agora eram os 200. Necas! Reginas batiam um bolão! Mas que diabos? Minhas contas antigas estariam erradas? Mas ai os valores de junho tinham de ser diferentes. Não, alguma coisa nos dados tinha mudado, e eu precisava saber o que!
NOME
QUANTIDADE
MEDIA
REGINA
1769
R$ 7.290,96
LUCIA
1634
R$ 7.253,19
DENISE
1397
R$ 7.095,79
SILVIA
1309
R$ 7.015,82
ELIZABETH
905
R$ 7.013,96
CRISTINA
959
R$ 6.979,49
CELIA
874
R$ 6.935,12
SERGIO
5330
R$ 6.900,84
ROSA
901
R$ 6.892,27
CELSO
1310
R$ 6.869,84
Maiores médias salariais por nome
A dica veio quando ao testar os javascripts de reordenar as tabelas, ordenei por “quantidade de servidores” a tabela dos órgãos. E os vencedores de sempre, ministério da saúde e INSS tinham pulado, em maio, pra 3º e 4º lugar. E na frente de tudo vinham os calouros Comandos do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. Fiquei pasmo! Será? Será que os MILITARES, aqueles geralmente considerados retrógrados, conservadores, apegados a rigidez hierárquica e sobretudo MACHISTAS eram os responsáveis por colocar as mulheres no TOPO da lista? Será que nas forças armadas as mulheres ganhavam TÃO mais assim? Não é possível… Rápido, um select aqui, um order by ali e… PASMÉN!
SIM! As mulheres ganham, em média, mais que os homens entre os militares!
(só pra constar que essa é uma pseudo conclusão também, já que não tenho informação de sexo, só de nome, e não fiz uma pesquisa exaustiva, mas apenas entre os nomes mais comuns). Essa foi a segunda coisa mais contra intuitiva que eu ja tinha visto em toda minha vida, perdendo só pra Rua do Amendoim!
NOME
QUANTIDADE
MEDIA
MARIA
438
R$ 6.141,24
LUCIANA
300
R$ 5.716,87
ANA
830
R$ 5.390,72
ADRIANA
254
R$ 5.300,57
RENATA
386
R$ 5.275,04
PATRICIA
347
R$ 5.249,83
FERNANDA
358
R$ 5.010,69
JULIANA
375
R$ 4.748,59
MARCO
1335
R$ 4.664,48
SERGIO
1838
R$ 4.572,13
Maiores salários médios entre os militares
Minha cabeça já estava de ponta cabeça. Mas peraí! Os maiores salários das militares não são das Reginas, muito menos das Lúcias, Denises e Sílvias. Tudo bem as Militares ganharem mais, mas não são elas que colocaram as Reginas na frente! Tem mais alguma coisa acontecendo! E eu acho que sei o que é: eu nunca vi uma soldada!
Sério, conheço mulheres tenentes, capitãs, majores e até coroneis (coronelas?), mas nunca vi uma soldada! E menos ainda uma recruta: não existe serviço militar obrigatório para mulheres! Agora sim a coisa começa a fazer sentido. Fui conferir e.. os Ricardos que ganhavam altos R$ 8.329,88 na primeira leva dos dados, agora ganham “míseros” R$ 6.463,87. Já as Camilas pouco mudaram, de R$ 4.270,70 pra R$ 4.303,93. A ficha caiu. As forças armadas não puxam pra cima o salário feminino. Puxam pra baixo o masculino.
Tudo bem, o exército puxa pra baixo o salário dos homens por causa de recrutas e soldados. Vá lá, mas as mulheres continuam ganhando mais que os homens! Os números não mentem. É verdade, não mentem. Mas metade dos números só diz meia verdade. E a verdade verdadeira só vai aparecer quando se compara entre iguais. Mais selects, mais order bys e voilà. Meu senso comum restaurado, firme e forte: Entre os oficiais militares, quem ganha mais são os Walters. As Ritas, melhores colocadas entre as oficialas, só aparecem bem longe, na 94ª posição. E quando falamos de número de pessoas a coisa também não fica bem pras Marias (ou pras Anas, que é o nome mais comum entre as mulheres militares). Pra 1053 josés, o nome mais comum, temos apenas 411 anas (ou 264 marias).
ORDEM
NOME
QUANTIDADE
MEDIA
1
WALTER
45
R$ 10.612,44
2
GERSON
47
R$ 10.133,28
3
ALVARO
82
R$ 10.036,26
4
ORLANDO
31
R$ 9.970,77
5
MARCO
282
R$ 9.931,24
6
SERGIO
373
R$ 9.898,51
7
CLAUDIO
304
R$ 9.895,78
8
WILSON
60
R$ 9.891,97
9
MAURO
122
R$ 9.860,34
10
NILSON
37
R$ 9.848,68
. . .
95
RITA
30
R$ 8.395,57
Maiores médias salariais entre oficiais
É, caiu por terra toda a esperança de feminismo militar. Na pratica, são poucas mulheres e apenas em em áreas de nicho. E elas só ganham mais, na média, do que os homens, porque não tem acesso aos cargos mais baixos. Quando a comparação é entre iguais, elas continuam no prejuízo.
O jeito é correr pras universidades, onde ainda impera um espirito progressista. Por lá, as Veras ganham dos Sebastiões, e as Reginas, Lúcias e Sônias disputam uma vaga nas quartas de finais.
NOME
QUANTIDADE
MEDIA
VERA
162
R$ 11.058,40
SEBASTIAO
85
R$ 10.679,09
NELSON
118
R$ 10.518,53
VICENTE
56
R$ 10.410,07
REGINA
186
R$ 10.302,47
ARMANDO
63
R$ 10.272,78
LUCIA
203
R$ 10.096,62
SONIA
222
R$ 10.046,67
WILSON
103
R$ 10.022,98
ALFREDO
66
R$ 9.954,97
Maiores médias salariais entre Prof. Universitários
A CGU botou no ar hoje arquivos mais completos do que eles disponibilizavam antes (naquele mesmo link que eu citei no post original), em formato CSV, e dentro dele tem até mais informações do que as que eu “roubava” via wget. Vou adaptar meus programas e scripts e posto aqui novamente. (Os arquivos todos agora tem ID, então vai facilitar pra montar um banco, basta importar!)
Ontem enquanto eu escrevia o post no blog eu percebi que os dados no site do portal da transparencia tinham sido atualizados. Então durante a noite (e boa parte do dia) de hoje eu fiz tudo de novo: baixei, extrai, gerei os bancos, etc. Com isso os valores das tabelas variam um pouquinho, a saber, na mesma ordem que elas ocorrem:
Nome
Qtd.
Média
BANCO CENTRAL DO BRASIL
4459
R$ 16.737,60
ADVOCACIA-GERAL DA UNIAO
7546
R$ 15.088,26
CENTRO NAC.TECNO.ELETRONICA AVANCADA S.A
7
R$ 14.374,32
CONTROLADORIA-GERAL DA UNIAO
2342
R$ 14.247,22
INSTITUTO DE PESQUISA ECONOMICA APLICADA
564
R$ 14.184,95
SUPERINTENDENCIA DE SEGUROS PRIVADOS
422
R$ 13.678,75
MINISTERIO DA FAZENDA
32596
R$ 12.487,48
EMPRESA DE PESQUISA ENERGETICA
8
R$ 12.402,34
AGENCIA NACIONAL DE AGUAS
328
R$ 12.379,99
COMISSAO DE VALORES MOBILIARIOS
564
R$ 12.352,41
EMPRESA DE TRENS URBANOS DE PORTO ALEGRE
13
R$ 11.327,64
AGENCIA NAC PETROLEO GAS NAT BIOCOMBUSTI
685
R$ 11.301,15
MINISTERIO DAS RELACOES EXTERIORES
1547
R$ 11.129,46
AGENCIA NACIONAL DE VIGILANCIA SANITARIA
1934
R$ 10.952,20
AGENCIA NACIONAL DE SAUDE SUPLEMENTAR
602
R$ 10.804,12
AGENCIA NAC. DE TRANSPORTES AQUAVIARIOS
331
R$ 10.773,54
DEFENSORIA PUBLICA DA UNIAO
790
R$ 10.728,50
AGENCIA NACIONAL DE ENERGIA ELETRICA
680
R$ 10.692,32
DEPARTAMENTO DE POLICIA FEDERAL
13653
R$ 10.629,33
EMPRESA BRASILEIRA DE PESQ. AGROPECUARIA
80
R$ 10.608,95
Dá pra ver que muita coisa que parecia “lixo” sumiu dali. Devem ter dado uma limpa no banco. De resto, pros órgãos grandes, a coisa variou muito pouco.
A segunda tabela ficou também quase idêntica, mas dá pra ver que temos um diretor a mais no bacen, variando a média em menos de 10 reais.:
Ordem
Nome
Qtd.
Média
1
PRESIDENTE DO BANCO CENTRAL
1
R$ 26.723,13
2
PRESIDENTA DA REPUBLICA
1
R$ 26.723,13
4
DIRETOR SERVIDOR DO BANCO CENTRAL
5
R$ 26.544,65
7
MINISTRO DE PRIMEIRA CLASSE
56
R$ 23.849,09
8
MINISTRO DE ESTADO
28
R$ 22.932,80
10
MINISTRO DE SEGUNDA CLASSE
92
R$ 21.803,70
11
DELEGADO DE POLICIA CIVIL ESPECIAL
16
R$ 21.165,90
12
DELEGADO DE POL FEDERAL CLASSE ESPECIAL
401
R$ 20.920,50
14
TEC DE PLANEJ E PESQUISA-QUADRO SUPLEMEN
15
R$ 20.709,20
17
PERITO CRIMINAL FEDERAL CLASSE ESPECIAL
161
R$ 20.121,84
19
AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL BRASIL
11555
R$ 19.580,66
21
CONSELHEIRO
109
R$ 19.460,44
24
TECNICO DE PLANEJAMENTO
70
R$ 19.137,80
28
AUDITOR FISCAL DO TRABALHO
2993
R$ 18.764,91
29
ADVOGADO DA UNIAO
1663
R$ 18.649,92
32
ANALISTA DO BANCO CENTRAL
3588
R$ 18.430,96
34
PROCURADOR DO BANCO CENTRAL
197
R$ 18.286,05
36
PROCURADOR FEDERAL
4022
R$ 18.122,84
37
PROCURADOR DA FAZENDA
1972
R$ 18.100,70
38
TECNICO DE PLANEJAMENTO E PESQUISA
241
R$ 17.943,75
E por ultimo, os nomes, maiores salários:
Nome
Conta
Média
RICARDO
3554
R$ 8.329,88
EDUARDO
3154
R$ 8.185,49
MAURICIO
1371
R$ 8.118,06
MAURO
1185
R$ 8.112,45
SERGIO
3519
R$ 8.085,87
CELSO
925
R$ 8.013,91
MARCO
1860
R$ 7.983,56
ALEXANDRE
2922
R$ 7.973,82
MARIO
1858
R$ 7.969,51
FLAVIO
1526
R$ 7.943,72
mais numerosos:
Nome
Conta
Média
MARIA
31473
R$ 6.323,33
JOSE
23182
R$ 6.737,69
ANTONIO
10149
R$ 6.785,85
ANA
9114
R$ 6.370,03
CARLOS
8711
R$ 7.431,25
PAULO
8459
R$ 7.608,78
JOAO
8380
R$ 6.781,19
LUIZ
7963
R$ 7.530,64
FRANCISCO
7534
R$ 6.400,11
MARCELO
4283
R$ 7.933,87
menores salários:
Nome
Qtd
Média
CAMILA
760
R$ 4.270,70
DIEGO
681
R$ 4.611,94
PRISCILA
597
R$ 4.742,34
RAIMUNDA
601
R$ 4.841,21
ALINE
1288
R$ 4.937,33
ANDREIA
629
R$ 5.048,32
VANESSA
955
R$ 5.085,29
THIAGO
1245
R$ 5.088,57
FRANCISCA
1297
R$ 5.152,34
THAIS
501
R$ 5.202,00
Dá pra ver que em nenhuma tabela a mudança foi significativa, e não muda nada sobre as conclusões que tirei no outro post. Suponho que esses dados devam estar constantemente sendo atualizados, já que vem de um sistema online do governo, o SIAPE. Com isso, lotações de pessoas, erros nos nomes, etc, devem estar sendo corrigidos constantemente. Mais ainda com esse sistema no ar.
Ontem no trabalho entregaram uma “cartinha” pras mulheres, exaltando as virtudes femininas. Hoje, pela rua afora, vejo rosas sendo distribuídas. Não sei se é só eu, mas pra mim isso tudo vai de encontro com o que o dia de hoje representa.
Há exatos 100 anos, 8 de maio foi o dia escolhido pela manifestação das mulheres de Nova Iorque para lutar pelos direitos das mulheres: Salários e horários de trabalho iguais aos dos homens e direito a voto. Um ano depois, com muitas baixas pelo caminho, elas conquistaram alguns desses direitos. Um século depois, e muito mais baixas, o luta ainda não terminou. Salários femininos ainda são diversas vezes menores que os masculinos. A violência contra a mulher continua. As mulheres em cargos de chefia ainda são uma minoria, e o preconceito que exige das mulheres feminilidade e submissão ainda se expressa com rosas e cartinhas no dia 8 de maio.
Pra mim hoje é um dia de luto. Mesmo o famoso incêndio da fábrica Triangle Shirtwaist ( http://en.wikipedia.org/wiki/Triangle_Shirtwaist_Factory_fire ) tendo acontecido apenas anos depois das primeiras manifestações do dia da mulher, este é um dos eventos lamentados no dia de hoje. E é apenas o pior deles, porque os eventos envolvendo o maltrato às mulheres e a repressão contra a luta dos direitos da mulher são infinitos…
Feliz? Sim, porque muitas conquistas foram conseguidas, mas ainda não totalmente feliz. Feliz será o dia onde poderemos ver as mulheres realmente em pé de igualdade com os homens. Não só em casos isolados, mas no mundo como um todo. No dia a dia. Feliz será o dia em que dos 365 dias do ano, nenhum será o dia da mulher, porque todos eles serão dias para todos, de ambos os sexos.
Enquanto tivermos luta para lutar, o dia internacional da mulher não é um dia de exaltar a feminilidade, mas um dia para lembrar a luta que ainda precisa ser travada, para mostrar ao mundo que as mulheres ainda estão dispostas a isso, e para lamentar os terrores e perdas do passado. É um dia de luto pelas tragédias passadas, mas de comemoração das conquistas. É um dia de luta, como devem ser todos os outros 365.
Rosas? Se quiserem, mas antes das rosas, consciência, força e determinação, que são as virtudes que levarão as mulheres a uma posição digna na sociedade.