De caramulhãozinho Famaliá até Javé, passando por um pouquinho de história
Saiu de uma lista de discussão… Citaram alguma coisa de caramulhãozinho, que era um tipo de Famaliá, ou capetinha doméstico (um house elf da vida). E acabei soltando o que sei:
girino wrote:
Acho que esses “familiares” vem dos “lares” pre-cristãos (vem da mitologia dos indo-europeus e existem em todas as mitologias pós-indoeuropeias como nos romanos, nos gregos nos indianos, etc…).
Como tudo pós catolicismo, os seres mitológicos mais antigos viram automaticamente “capetas” quando o cristianismo toma o poder 🙂
E quando alguém continuou sobre o assunto, e os panteões gregos entraram no meio, tracei uma cronologia:
girino wrote:
O Fustel de Coulanges (in “Cidade Antiga”) faz uma espécie de cronologia da evolução dos deuses desde os “lares” até os panteões do olimpo…
A idéia é a seguinte:
primeiro cada família tinha um lar… Cada micro-tribo era uma família então todos tinham um lar (em geral associado a um animal totêmico ou a um ancestral heróico).
Quando as famílias começaram a se juntar (ou a crescer demais) e formarem tribos, alguns “lares” de famílias dominantes tomavam o poder e viravam os deuses daquela tribo. Em geral era na verdade uma família associando seus lares com os da outra família e interpretando como sendo manifestações diferentes do mesmo deus. Mesmo assim, a tribo tinha um culto X enquanto cada família mantinha seu culto particular ao seu lar.
Quando as tribos começaram a se juntar em cidades e reinos, os deuses dessas tribos (que eram uma evolução dos lares) se juntavam de forma a criar um panteão. Sempre um deus mais poderoso ficava sendo o Deus principal da cidade (Atena Partenos em Atenas, Jupiter em Roma, etc). Os Deuses tribais viravam deuses “inferiores” ou então “heróis” mitológicos (“Hércules“, “Jasão“, etc).
A partir daí a evolução varia dependendo da forma como essas cidades se organizam. Na grécia formou-se um panteão que era composto dos deuses das cidades mais poderosas. Em roma formou-se um panteão por associação (cada nova província conquistada incorporava seu Deus ao panteão para não desagradar aos conquistados).
Mas basicamente, os deuses poiliteistas E O NOSSO DEUS JUDAICO CRISTÃO DE CADA DIA NOS DAI HOJE, foram em algum momento os deuses domésticos (os lares) de alguém… O nosso javé era o deus doméstico da família do abraão, depois deus da tribo de abraão e por fim Deus de Israel e Judá.
Enfim, historicamente, até Deus era um capetinha desses famaliá.
—girino 22:27, 4 Outubro 2007 (BRT)