Lembranças de 1964…

No campus da ufmg, prédio do Instituto de Ciências Geológicas, alunos se reúnem para uma sessão de cinema do DCE. O prédio fica cercado pela Polícia militar que impede a saída de todos, inclusive professores. Os que tentam sair são agredidos, e até presos. Os que ficam e tentam discutir são ofendidos de “professorzinho de merda”, entre outras pérolas. Os diretores de outros institutos são acionados para tentar resolver a situação, e a reitora em exercício tenta com o comando da polícia que a polícia se retire. Afinal, é uma autarquia federal, e ali só pode entrar polícia com autorização dela.

Bem vindos ao ano de… 2008. Sim, isso mesmo, essa cena não é uma reconstituição da ditadura, é um fato acontecido semana passada. Alegando que existia um convênio entre a PM e a reitoria, os policiais se deram o direito de entrar na UFMG sem serem convidados no melhor estilo “ditadura militar”.

O Chiquinho Bomba Atômica da vez foi aparentemente o diretor do ICEx, Bismarck Vaz da Costa, que foi quem conseguiu negociar a saída da polícia. Mas a coisa deixou marcas profundas na comunidade universitária…

Segurança x Opressão na UFMG


Vídeo dos policiais prendendo um estudante

Na década passada a ditadura já era só uma má lembrança dos professores. Os alunos nem sabiam o que era conflito com a polícia. E as violência urbana escalando assustadoramente, atingiu a UFMG na forma de seqüestros, estupros e assaltos. Nessa época um convênio com a PM foi assinado, para garantir que o sumiço da funcionária Elizabeth de Souza Pinheiro não fosse algo recorrente. E a coisa vinha dando certo, até quinta feira da semana passada.

Agora, com essa cena que não se via a décadas, chegou a hora de repensar, e a comunidade universitária está confusa e desamparada: Se a polícia entra, ela oprime a comunidade acadêmica, sem respeito pelas autoridades internas nem pela instituição. Se ela não entra, voltam os roubos, assaltos e sequestros…

Essa podia ser só mais uma invasão de reitoria, mas ao contrário da USP ano passado ou da UNB, essa não veio de cima. não tem motivação política, nem de defesa de valores abstratos e ideais utópicos. Essa invasão é uma pressão para que a reitoria resolva de forma imediata o problema da violência, tanto a dos bandidos, quanto a da polícia, que não respeita e se esconde atrás do próprio convênio que ela assinou.

Não sou a favor de nenhuma invasão de reitoria, mas a polícia oprimindo aqueles que de boa vontade assinaram convênio com eles, na esperança de que a ditadura fosse passado, isso não há como defender. Academia e violência não combinam. Precisamos de uma solução para a violência urbana que não gere opressão policial. A UFMG pode ter sido apenas o primeiro caso, mas para garantir que não se repita, ela tem de tomar as rédeas e encontrar o caminho do futuro livre, democrático e de direito.

Como o Humberto Massa me lembrou num fórum mais cedo: O preço da liberdade é a eterna vigilância. E a UFMG está pagando o preço de uma distração.

Links para notícias:

P.S.: Quem comentar sobre os estudantes estarem ou não fazendo apologia a maconha, por favor, saibam que o argumento não tem nada a ver com que está exposto aqui. Falo aqui da polícia invadindo a universidade, prendendo alunos e ofendendo professores, violando direitos das pessoas SEM TER AUTORIDADE NEM AUTORIZAÇÃO para tal. Violando regras básicas da liberdade e da democracia. Se quiserem discutir sobre os alunos estarem errados ou não façam seus próprios blogs, por favor.

2 thoughts on “Lembranças de 1964…

  1. Seguranca é inversamente proporcional a liberdade civil. Na minha opinião era de se esperar que a PM dentro do campus eventualmente iria levar a incidentes deste tipo. Principalmente se considerarmos o baixo índice de escolaridade da polícia, o histórico anterior de conflitos entre polícia militar e estudantes (i.e. cultura de repressão) e o atual estado de ódio social no Brasil. A questão agora é saber se a comunidade universitária prefere optar pela violência causada pela falta de policiamento ou pelo policiamento excessivo….

  2. > A questão agora é saber se a comunidade universitária prefere
    > optar pela violência causada pela falta de policiamento ou pelo
    > policiamento excessivo….

    Ou como disse minha mãe: Vou mudar pra lua!

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