Crianças,
No outono de 1999 o seu tio paulosta me chamou no mirc. Naquela época a internet era movida a vapor, a injeção eletrônica ainda era novidade e a piadinha de atender o chinelo toda vez que algum celular tocava ainda tinha graça. Era um tempo em que a internet parecia feita por torpedos de celular, só que sem celular, e o mirc era a segunda forma de comunicação mais utilizada na internet (a primeira era recadinhos em post-its pregados no monitor da pessoa). Pois bem, foi nesse ano que seu tio paulosta me chamou no mirc:
<paulosta> girino, tava mascano uma mulher aqui mas acho que ela eh proce.
[naquela época teclado acentuado também era novidade, quem dirá um programa que aceitasse acentuação]
<girino> porque?
<paulosta> ela eh bonitinha, mas eh baixinha e gordinha!
<girino> tem foto?
<paulosta> perai que jah mando!
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-girino- DCC file received 17 bytes/s
<paulosta> viu aih? eh essa anita que tah no canal!
Não sei bem se o diálogo foi exatamente esse, mas foi algo bem parecido com isso. Nesse ponto eu ainda não conheci sua mãe. Não. Primeiro porque, bem, naquela época medieval, a gente não tinha muito o costume de sair com a primeira pessoa que conversasse no mirc. Segundo porque ela fugiu pra Chicago e passou uns dois meses por lá… Conversando comigo todo dia, pelo mirc, claro! Num desses dias, a curiosidade dela falou mais forte:
<anita> girino, qual o seu nome?
<girino> girino mesmo, porque?
<anita> hummm
E ao mesmo tempo, outra janelinha pulava na minha tela:
<paulosta> a anita perguntou seu nome e eu falei que era julio cesar. finge que eh verdade.
<girino> hauhauhauahauhauahu [naquela época a gente ainda não ria “rss” ou “lol”, era hahaha ou huahauhua, acreditam nisso?]
De volta a janelinha da anita:
<anita> ah, eu descobri seu nome! eh Julio Cesar!
<girino> como vc descobriu? foi o paulosta que te contou?
<anita> claro que nao! eu descobri sozinha!
Desse dia em diante, eu era, pra todos os efeitos, Júlio César! (Menos mal, se já acreditaram quando eu disse que meu pai tinha morrido na guerra da Criméia e, no primeiro de abril de 2002, que eu faleci vítima de gripe asiática, eu chamar Júlio César era fácil).
Depois dessa lenga lenga toda, a galera do mirc, ou melhor, a galera que bebia comigo e com o paulosta e também frequentava o mirc por nossa causa, resolveu fazer um encontro no boliche do shopping Del Rey. A Anita tinha voltado de chicago e pela primeira vez eu a convenci a me encontrar: não estaríamos sozinhos, era perto da casa dela e no fim das contas, se tudo desse errado a gente poderia só jogar boliche!
Quer dizer, a parte do “não estaríamos sozinhos” não funcionava em favor dela: eu estaria com meus companheiros de farra, todos conspirando para que eu ficasse com ela. Mas ela não precisava saber! Até então, eu devia parecer um sujeito nerd romântico solitário que ela conheceu na internet. Que ilusão. Quando ela chegou, ela já foi logo se assustando, pensando (bom, ACHO que ela pensou isso, confirmem com ela depois):
“Meu Deus! Que povo bêbado sem noção. Que menino nojento! E ele nem faz a barba! Que horror! O quê que eu tou fazendo aqui?”
Mas com tudo planejado, e o “não estaríamos sozinhos” já funcionando, fomos pressionados num canto onde consegui um primeiro beijo sob vivas e aplausos. E sob olhar de desespero por parte dela, já pensando que não tinha como a coisa piorar, eu viro pra ela e falo:
– Ou, para de me chamar de Júlio César, sô! Meu nome é João!
Sete anos depois, nos casamos!
Se eu não tomei um tapa na cara nesse dia, acho que nunca mais vou tomar!
(Esse post foi escrito para o jornalzinho interno da empresa onde a Anita trabalha, em homenagem ao dia dos namorados de 2011).
Hahaha acho que tenho ate fotos desse dia….
c esqueceu do “fala batatinha”
a Anita ainda deu sorte de nao tef ficado meses mascando o girbinho.
O Girino se chama João?? Pouco a pouco os últimos mistérios dos anos 90 vão sendo desevendados para mim…