(Ou a minha resposta aos absurdos da Ruth de Aquino)
Não sei, acho que essa tal Ruth, antes uma ilustre desconhecida fora do próprio meio, virou vedete da blogosfera não por mérito, mas por demérito. Mas já que tanto leite se derramou por conta dela, escrevi também minha resposta:
Quando eu era criança, lá nos idos dos anos 1980, morando num subúrbio parisiense cheio de operários imigrantes, ria a vontade com as piadas sobre árabes. Depois na minha adolescência na capital das alterosas, piadas de negros e judeus continuavam extraindo minhas gargalhadas. Na década de noventa o brasileiro já havia percebido o mal do racismo. Piadas agora eram sobre gays, e não mais sobre negros e judeus! Agora nos anos 2000 cuidamos para que estereótipos de grupos, sejam sociais, sejam étnicos, não mais apareçam de forma debochada e depreciativa. As piadas continuam engraçadas, vejam bem, mas sem precisar citar a cor da pele ou a opção sexual da pessoa. Não é mais “um negão” ou “uma bichinha”, mas apenas “um sujeito” ou “um cidadão”.
Imagine então, se hoje, no ano de 2009, uma jornalista de uma revista de grande circulação escrevesse uma crônica intitulada:
“O besteirol nas ONGs de orgulho Gay é melhor que no Senado”
Ou então uma com o subtítulo:
“Ler sobre ativismo de entidades afro-brasileiras é uma receita certa para dar risada.”
Não há risada que justifique o racismo dessa frase! Não há besteirol que justifique a homofobia da primeira. Não há, Sra. Ruth, texto que “se propõe sobretudo a ser bem humorado” que justifique o preconceito expressado no seu artigo. Lembre que 30 anos atrás o preconceito contra negros era tão comum que ninguém se consideraria racista por contar uma piada de negros. E 20 anos atrás, ninguém se consideraria homofóbico por contar piadas de gays. O preconceito é cego. Se a Sra. não consegue ver o próprio erro é culpa do próprio preconceito. A intenção bem humorada do texto é calcada no preconceito contra a ciência e o cientista! É o tipo de “boa intenção” (e aqui entre aspas por que pessoalmente não vejo nada de boa nela) da qual o inferno está cheio.
Repense seus valores e conceitos, olhe bem para o que escreveu e entenda: ofender, estigmatizar e rir dos outros é sim preconceito, e como todo preconceito, nocivo à sociedade.